Soños de corentena

A Coruña Ângelo
Aluguei um quarto. Tratava-se duma dependência penosa, com uma cama no centro, no primeiro andar dum prédio obscuro e húmido. O pior de tudo é que para os vizinhos acederem às suas habitações, deviam atravessar a minha. Seja como for, percebi que faziam esforços por não serem vistos e mal coincidia com eles. O problema é que suspeito que me espiam pelos postigos e pelo interfone. Chego, mesmo a ouvir vagamente conversas entre eles nas que dão conta dos meus movimentos. Volvendo a casa desde a rua, topo com dois agentes da polícia municipal que estão a sair do meu quarto de maneira apressurada. Interponho--me no seu caminho e peço explicações. O que é isso de entrar no meu quarto sem ordem judicial e sem a minha presença? Os agentes escudam-se em que não era a minha morada a que vinham de registar, senão a dum vizinho; e claro, pela disposição do edifício, deviam atravessar pela minha hospedagem. Há alguma coisa nas suas explicações que faz desconfiar, assim que lhes nego corajosamente o passo, apesar que me dou conta, nesse momento, que um dos agentes é grande e forçudo; e que não vou ter qualquer possibilidade de vencer numa eventual luta...